O PONTO ESCURO DO MEU CÉU
Quero ser o ponto negro no céu do meu esplendor, recolher toda a luz que me chega, uni-la à minha e tornar-me uma estrela que apenas pode ser vista do universo do seu interior. Não me interessam os astros endógenos, os que brilham lá fora, na imensidão que não me pertence, irradiando a vaidade da fissão dos núcleos e da fabricação de matérias complexas. Também não quero ser um corpo celeste circular, como os medievais, perfeito no movimento, brilhante e puro, visível em toda a terra como criação divina. O que pretendo é ser opaco e irregular, profano, às vezes sórdido, ser tudo o que há de mais banal, de mais inconsistente e injustificado. Não me preocupo com o espaço ou com o tempo, com a velocidade ou a origem, a fecundidade ou a morte, apenas desejo concentrar-me em ser eu mesmo, o esplendor de quase nada, o brio da minha miséria, a ilustração do único caminho que a minha alternativa pode ter. Sei que o meu fogo, seja quente ou frio, produz os elementos mais valiosos do meu mundo e que eu sou a fundição das joias mais preciosas.
Quando o céu que não é do meu esplendor ficar cheio de pontos escuros, exultarei, porque não estarei sozinho na solidão de ser estrela de mim próprio.