faz de mim marinheiro exultante
se algum dia regressares
ao tempo que nos fundiu à beira-mar
num beijo imprevisto que tinha de ser
leva-me de novo para tudo o mais
além do que é tão só o que acontece
faz de mim marinheiro exultante
que nada sabe do que é marear
nem tem qualquer porto para o desembarque
apenas a viagem na estesia do amor
e os entusiasmos sem explicação
e a intensidade tormentosa da maior calmaria
na imensa liquidez desse percurso
quero sentir as horas como anos
e estes tão breves como instantes
num trajeto sem freio moral
livre dos olhares e das obrigações
onde os horizontes explodem
do interior
e o oceano tem raízes no céu
e os nossos corações são dois entusiasmos
a fecundar-se para todo o sempre
ajuda-me a desfazer-me deste peso
desta opressão do ego realista
e dos princípios do maldito dever
que o amor mais puro torna a solidão
o alimento mais próspero que existe
não quero mais família ou sociedade
ou ideologia ou a torpe riqueza
quero apenas o dom da tua pele
e o sagrado alento da tua boca
e a eterna casa do teu amor