A NOSTALGIA DO CORPO

02-01-2018 01:47

Atualizei ontem o programa e está muito bom, permite aplicar o estilo poético e criar imagens e ritmos muito sedutores. Qualquer um de nós pode ser um poeta, com esta aplicação neural. Repara como é fácil, vou pensar no teu corpo e deixar que o descodificador aplique a configuração estética. Escolho o contexto do século vinte e um, com todas as implicações no domínio da sedução, do amor e do sexo. Vê como é fácil.

Hoje pensei neles, nos teus seios, nos biquinhos vermelhos e talosos, como frutos proibidos, esplendorosos, carnudos como cerejas, enfrentei-os, gotinhas de suor logo rolaram, lentamente, para o termo das mucosas e, em desespero forte, bem tentaram vencer a gravidade que as puxava, permanecer na erógena quentura, do sangue, que lhes inflava a textura, provocando-me a boca, que queimava, por causa do fogo da paixão, que assola este meu corpo, em combustão, ela desceu, beijando até aos seios, com estes lábios rubros e tão cheios do impulso de apertar os teus frutinhos, talosos, maduros, redondinhos, brilhantes, seguros, vermelhinhos...

Gosto realmente desta aplicação. É muito sugestiva. Espero que concordes, porque a comprei a pensar em ti, quero privilegiar-te com formas expressivas mais belas, mais cativantes. Permite um toque nostálgico, sensações de um mundo perdido, primitivo mas forte, cheio de uma animalidade que acabou de se levantar da terra, de se libertar do pó. A carne, formatada em corpo bípede, real, concreta, era ainda o motor da lascívia, o trampolim da imaginação. A sensualidade era construída pelo cérebro animal a partir da percepção da pele, da textura, do movimento, da forma, da expressão, do cheiro, da voz, do sorriso… O móbil do amor estava nos corpos dos outros.

Naquele tempo, como nos milhares de anos, ou talvez milhões, anteriores, o verdadeiro prazer amoroso concretizava-se através do contacto direto de organismos em ebulição, de animais toldados pelo instinto luxurioso e ancestral, que semeou este planeta e inúmeros outros de incalculáveis sementes de vida, de exuberantes cortejos de espécies.

Quero voltar a esse tempo de fluxos sanguíneos e mucosas, de partilha de humores, de sintonia de almas, de êxtases musculares, de resfolegares orgásticos, de poluções torrenciais…

Sim, Rosa, meu amor, quando não estou contigo apenas tenho este apetite voraz de te encontrar, torno-me um predador da minha mente, aniquilo memórias e pensamentos, esfacelo tudo o que encontro na minha selva para construir a imensa clareira onde te deito.

Declaro, na inteira posse do meu perfeito juízo e de pleno acordo com a minha vontade, que a maior certeza que possuo, nesta fase da vida, é a de que nutro o desejo incondicional de estar centrado em ti. Afirmo que me seduziste irrevogavelmente com as tuas incontornáveis qualidades e me fizeste viver da esperança de te agradar continuamente, de te abraçar sem reservas, de explorar o teu corpo até à exaustão e mesmo depois de esta ocorrer. Para bombear o sangue que me corre loucamente nas artérias, quando penso em ti, e acelera infinitamente quando te toco, o meu coração já decuplicou a energia. Digo, sem reserva, que potencias tudo o que eu quero, porque nada existe para mim que não dependa da tua existência. Arrependo-me de todos os desleixos que cometi no passado e faço aqui a contrição perfeita, certo de que a minha ligação irremissível contigo é, acima de tudo, a minha clara empatia pelo bem. Por isso, reconheço que a mútua absorção que vivenciamos, a fusão em que nos incendiamos e os entusiasmos em que explodimos, são obra de um mundo qua aspira à perfeição.

Concluo expressando a ambição de te beijar, tocar, esfregar, mimar, explorar, friccionar, massajar, sorver, impregnar, enfim, de agir sobre ti e debaixo de ti com todas as energias que arrancar da fúria do meu querer.

 

                                                                                                                                                        Excerto de "O REGRESSO DA MULHER QUE QUERIA SER VELHA"