A morte e o amor
A morte e o amor
Não tenho medo da morte
pois não me assusta o amor
observo-o em cada migalha do sustento universal
sinto-o espreitar em todos os átomos
e rir como uma criança na pureza do jogo
imprime-se no meu corpo como liberdade
uma centopeia com pés de delírio
esquadrinhando os recantos da casa dos sonhos
sei que dança num palco sem qualquer plateia
porque não há limite nem destino
que lhe cerceiem a loucura
por isso cria
um coração de cavidades infinitas
e vísceras omnívoras famintas
e membros lascivos
e pulsões canibais
e incontáveis olhos suicidas
os genes do amargo são os mais abundantes
pois entender a morte dá muito trabalho
o doce é bem simples é presente
um jardim florido que se esgota ali
mas o amargo
é uma paisagem de sanguessugas verticais
que sugam o passado e espirram o futuro
é um panorama amarelo
cheio das enfermidades das coisas de ser
é um campo de ossos que chocalham ao vento
e se tornam pássaros esfaimados de céu…