A GRAVATA
a gravata
Todos os dias as gravatas se acomodavam em torno do pescoço, uma em cada manhã, de acordo com a aparência da indumentária. As mãos da esposa concentravam-se naquela rotina de muitos anos, construindo um prazer difícil de justificar. Que significado podia ter a colocação de uma simples tira de tecido a ornamentar as camisas e a figura de um marido? Todos os dias ele aceitava os dedos precisos da mulher a prepará-lo para o mundo. O compromisso estava ali, naqueles gestos dedicados, naquela preocupação quase infantil que se repetia sem limite à vista. Quando acabava a feitura do nó e o laço ficava perfeito, a mão direita da esposa escolhia um dos perfumes preferidos e, com a ponta de um lenço próprio para o momento, aromatizava delicadamente a gravata, contaminando-a com o aroma quase impercetível do matrimónio.
— Não a sujes, não a amarrotes, a gravata é o símbolo do nosso casamento.
— Sim, claro! Não te preocupes.
Tirava-a sempre, o homem tirava-a sempre que, depois do trabalho, visitava as amantes e se deitava com elas, cuidadoso com o objeto que representava o contrato familiar. Quando se despedia, eram elas que lhe colocavam de novo a gravata, de modo tão atencioso como o da esposa. E era por isso que esta sabia com que mulher ele estivera nessa tarde: porque aprendera a reconhecer, em silêncio, os nós dos outros compromissos.